14/03/2010

Belém do Pará



Belém é um patrimônio da nossa gente, não só arquitetônico, mas cultural. É uma pena que de cinco anos pra cá a cidade esteja maltratada, até com com pichações sobre aqueles azulejos coloniais lindíssimos. Tudo em Belém é particular. Para mim, em especial, o teatro da Paz, um dos mais belos do Brasil. É comovente ver a multidão acompanhar o Círio de Nazaré. A comida, com destaque para o pato no tucupi, é exclusiva, assim como os deliciosos sorvetes de frutas regionais -cupuaçu, açaí, muruci- que são a cara de Belém. Sem falar na cerâmica marajoara.

Raul Cortez, ator


Ver-o-Peso: as marcas do mercado
Criaram-no como ponto de comércio caboclo, às margens do igarapé Piry, onde as canoas se juntavam para trocar frutas por peixes, carnes por legumes, ervas por cerâmicas, no longínquo ano de 1688. Passaram-se séculos, mas o seu espírito continua o mesmo. O dia ainda é uma réstia de noite quando as mercadorias chegam acomodadas em balaios de arumã, cestos de palha, sacos de juta, num troca-troca que não absolve sequer o comércio ilegal de pássaros silvestres oferecidos em gaiolas de jupati.
Das ilhotas e povoados ribeirinhos vêm os barcos, a remo ou a vela, juntar-se na baía do Guajará no memorável amanhecer de Belém. Feirantes, biscateiros, pescadores se movimentam, e vendem, e trocam, e discutem, e contam casos, e prescrevem receitas amazônicas, e preparam mandingas para amores rompidos.
Por ser tão importante, trouxeram-no de barco do Reio Unido e o ergueram inglês: nas torres angulares, nas escadas encaracoladas, no conjunto de ferro que o sustenta e o projeta desde o final do século passado. Batizaram-no Ver-o-Peso porque recebia, como recebe, a produção que vem do interior, e o governo, ansioso por impostos, lhe impôs uma balança e um fiscal, que só fazia urrar "Ver o peso!"
E aquilo deu nisso: de suas 1.300 barracas, 416 vendem hortifrutis, 78, ervas medicinais e 11 só se dedicam ao artesanato. O Ver-o-Peso (pça. do Pescador, s/n) pode ser visitado 24h por dia, mas o melhor é de manhã.

Lábios entorpecidos, língua adormecida
A língua adormece e o lábio treme levemente. É assim que a velha receita de índio manifesta sua magia: entorpecendo o paladar. Experimente-se qualquer prato da famosa culinária do Pará e se verá que a comida é comida de índio. O tucupi, por exemplo, é pra lá de tribal -nos ingredientes e no preparo. A mandioca é ralada, espremida e depois fervida em fogo lento dias a fio até perder o veneno. Só quando o caldo está bem amarelo, livre de impurezas, é que se lhe acrescenta o aromático e anestesiante jambu -uma plantinha rasteira, considerada medicinal e afrodisíaca. Além do pato assado, o tucupi acompanha qualquer peixe de água doce daqui: tamuatã (cascudo), filhote, pardo, tucunaré e, claro, o pirarucu, o maior peixe de escamas do Brasil (a pesca é proibida em certas épocas).
A maniçoba é ainda mais radical. Requer uma semana de preparação. A folha de maniva, a planta da mandioca, tem de ser moída e aferventada durante seis dias. Só depois disso é que a maniçoba vira prima da feijoada ao receber charque, bucho, toucinho, mocotó, orelha, pé, chouriço, lingüiça e paio e ser servida com arroz e farinha d'água.
Ao entardecer, sempre depois da chuva, as esquinas de Belém denunciam mais uma vez a vocação tribal da cozinha paraense. Nas cuias fumegantes das tacacazeiras borbulha o tacacá, uma sopa que leva tucupi, goma de tapioca, camarão seco e pimenta-de-cheiro e, naturalmente, o jambu. Sobremesa? Sirva-se de bolos, tortas ou doces de castanha-do-pará.


Forte do Castelo pça. Frei Caetano Brandão, s/n. Tel. (91) 223.4374. Diariam 7h-21h. Erguido em 1878 no mesmo local onde os portugueses construíram em 1616 o forte do Presépio, marco da fundação da cidade. Belíssima vista da baía do Guajará. Os canhões ainda estão sobre seus trilhos de ajuste de pontaria no piso de pedra.

Palácio Antonio Lemos pça. D. Pedro 2º, s/n. Tel. (91) 242.3344. Ter-dom 9h-18h. Conhecido como Palacete Azul, prédio neoclássico projetado pelo arquiteto italiano Antonio Landi e inaugurado em 1883. Abriga a prefeitura e o Museu de Arte de Belém, com pinturas regionais, esculturas "belle-époque" trazidas da Europa e mobiliário dos salões da alta sociedade paraense da passagem do século 19. Escadarias de mármore, lustres requintados, ladrilhos decorados, forro com detalhes de zinco e pisos de madeiras amazônicas.
Catedral da Sé pça. Frei Caetano Brandão, s/n. Inaugurada em 1771, possui painéis do italiano Domenico di Angelis e altar-mor doado pelo papa Pio 9. É daqui que parte todo ano o Círio de Nazaré.

Igreja N.S. das Mercês pça. Gov. José Malcher, s/n. Construção de traços simples de 1640. Era abrigo dos combatentes da Cobanagem, revolta popular que contou com a participação de negros e índios em 1835, contra os representantes da Regência.

Igreja do Carmo pça do Carmo, 72. Fachada em estilo clássico, inaugurada em 1777, no local onde existia a primeira capela do Carmo, demolida em 1690/ Da antiga sobrou o altar, com detalhes de prata.
Basílica de Nazaré pça. Justo Chermont, s/n. Tel. (91) 223.9399. Inaugurada em 1909, é uma reprodução da Basílica de S. Paulo, em Roma. As portas são de bronze. Na cripta, um museu sobre a tradicional festa do Círio do Nazaré.

Museu de Arte Sacra pça. Frei Caetano Brandão, s/n. Tels. (91) 225.1125/1142. Ter-sáb 9h-19h; dom e feriados 10h-14h. Único museu de arte sacra da Amazônia, tem exposição permanente de obras dos séculos 17, 18, 19 e 20. Sua principal atração é a Igreja de S. Alexandre, de 1718. Suas linhas barrocas contrastam com o estilo neoclássico da catedral da Sé, à sua frente. No interior, mobiliário de madeira entalhada por jesuítas e índios.

Parque e Museu Emílio Goeldi av. Magalhães Barata, 376. Tel. (91) 249.1233. Ter-qui 9h-12h e 14h-17h; sex 9h-12h; sáb, dom e feriados 9h-17h. Centro de pesquisa biológica e agronômica. Rara chance de conhecer, num único local, um verdadeiro santuário da fauna e da flora amazônicas: mais de 2.000 espécies de plantas e cerca de 600 animais em cativeiro ou soltos nos 52 mil m2 do bosque. Há peixes-bois, pirarucus, araras de todas as cores, pés de guaraná, paus-brasis, vitórias-régias, castanheiras-do-pará, palmeiras de açaí. Na exposição permanente, centenas de animais empalhados e objetos indígenas.

Palácio Lauro Sodré pça. D. Pedro 2º. Tel. (91) 225.3853. Ter-sex 10h-18h, sáb e dom 9h-13h. Inaugurado em 1772, o antigo palácio do Governo é uma obra-prima da arquitetura colonial brasileira. A cada período -Colônia, Reino, Império, República- o edifício sofreu restaurações que lhe alteraram a fachada e o interior. Abriga o Museu do Estado, com pinturas, esculturas e fotos.

Teatro da Paz pça. da República, s/n. Tel. (91) 224.7355. Seg-sex 9h-18h. Inaugurado em 1878, em estilo neoclássico, com 1.100 lugares. A fachada é sustentada por seis colunas coríntias. No teto do salão, pintura do italiano Domenico de Angelis retrata o deus Apolo e seu carro triunfal puxado por cavalos, entre motivos da fauna e da flora amazônicas. Marco da fase áurea do ciclo da borracha no Pará, recebeu companhias líricas famosas da Europa. Atenção para antigos avisos do regulamento, impressos em placas de ágata dispostas pelos corredores.
IR
Cidade Velha Centro. O bairro conserva a arquitetura colonial da cidade. Sobradinhos geminados, azulejos portugueses na fachada, ruas estreitas, becos e calçadas de pedra. Comece pela rua Siqueira Mendes, a primeira de Belém.
Praça Batista Campo Centro. Pracinha simples, do começo do século, com coreto pequenos lagos, pista de "cooper" e carrinhos de sorvete. Experimente picolé com sabor da terra: cupuaçu, cajá, graviola, bacuri, muruci e acerola.

PASSEAR

Bosque Rodrigues Alves av. Almirante Barroso, 1.622. Diariam 6h-19h. No centro de Belém, uma amostra da mata amazônica original, com 2.500 árvores. O bosque tem uma área total de 152 mil m2 com lagos, grutas e orquidário. Foi construído pelo barão de Marajó, que sonhava com uma réplica do Bois de Boulogne, de Paris. No zoológico, bichos amazônicos como peixes-bois e tartarugas. E para manter nossas lendas vivas, na alameda principal, esculturas do Curupira, defensor das matas, e o Mapinguari, espécie de monstro humano.

Parque da Residência av. Magalhães Baata, 830. Tel. (91) 249.3001. Ter-dom 9h-22h30. Antiga residência do governador, abriga atualmente parte da Secretaria de Cultura, além de ser uma agradável área de lazer. Oferece restaurante, lanchonete e uma original sorveteria, instalada em um antigo vagão de trem.

CONHECER

Ilha do Outeiro A 26 km de Belém. Acesso por ponte rodoviária a partir de Icoaraci. A atração são as praias fluviais, na baía do Guajará, como a do Amor, Água Boa e Grande.

Ilha do Mosqueiro A 86 km de Bel´m, pela BR-136. Se você não acredita que um rio tenha onda de mar, Mosqueiro, a 86 km de Belém, tira qualquer dúvida. Tem 14 praias de água doce. As praias do Farol, Murubira e Chapéu Virado são muito freqüentadas por jovens nos finais de semana. Dependendo do vento e da maré, a de Marahue Paraíso tem boas ondas para surfe. A orla da cidade guarda características do começo do século 20, quando imigrantes alemães e ingleses construíram seus belos chalés europeus.

Engenho do Murutucu Embrapa, av. Perimetral, 211. A 5 km do centro. Pegar entrada em frente da rotatória de acesso ao detran. visitas com autorização do Embrapa. Tels. (91) 276.6333/2747. Seg-sex 9h-12h e 14h-17h. Escondidas pelo mato, as ruínas do engenho do Murutucu preservam a memória de um passado próspero. Movido a vapor desde 1780, o velho engenho de açúcar era orgulho do fazendeiro João Antônio Rodrigues Martins, que administrava suas terras tal qual um coronel nordestino, com muitos escravos. Foi assim até a passagem do século 20. Chega-se ao velho engenho pela av. Perimetral, pegando uma picada no mato em frente da rótula de acesso ao Detran. Entre poucos cacaueiros, estão as ruínas da imponente casa-grande. A capela, de 1711, é a construção mais conservada.

ASSISTIR

Círio de Nazaré Segundo domingo de outubro. Uma das maiores manifestações da fé católica no Brasil, desde 1793 o Círio de Nazaré se repete em Belém e homenageia a padroeira do Pará. Prédios e barcos são enfeitados com bandeirinhas coloridas, para reproduzir a história do aparecimento da imagem de N.S. de Nazaré no local onde hoje está a basílica de Nazaré. A lenda conta que a santa foi encontrada e levada para casa por um pescador. Mas no dia seguinte voltou a aparecer no mesmo local e a fazer milagres. Isso aconteceu por várias vezes. Nos últimos anos, cerca de 1,5 milhão de fiéis têm participado da procissão. Romeiros pagam promessas, carregam cruzes e ex-votos. A tradição é tão forte que a festa é considerada o Natal dos paraenses e termina com um grande almoço em família, onde não falta o pato no tucupi.

OUVIR

Carimbó Não dá para ouvir o ritmo da terra e ficar parado. Muito tambor, reco-reco e cordas agitam o carimbó e qualquer salão pega fogo. Aí, tem que dançar, e é fácil: "Mexe a cintura pra trás, pra frente um passinho só, agora dá uma rodada e dance assim o carimbó", ensina a música de Lucinha Bastos.

COMPRAR

Em Icoaraci, a 23 km de Belém, é produzida praticamente toda cerâmica tapajó e marajoara artesanal no estilo indígena do vale do Tapajós. O maior centro de oleiros é a r. Soledade, onde centenas de artesãos, inclusive crianças e adolescentes, moldam o barro em barracos de madeira. As peças de barro -vasos e reproduções de mitos indígenas- são baratas e também vendidas numa feira nos fins-de-semana. Em Belém, são encontradas no Ver-o-Peso, nas lojas da av. Pres. Vargas ou nos museus.

Fonte:http://www1.uol.com.br/bibliot/turismo/belem

2 comentários:

Hana disse...

Olá, chequei aqui atr´vés do Henrique, gostei de lugar cheio da cultura regional do Pará, aqui aprndi muito sobre esta região ao qual admiro, Prabéns pelo seu cantinho da sabedoria, respeito e sinto gratidão por você ter criado este espaço da cultura, para nós é enriqeucedor, muito obrigada. venha conhecer quando puder meu cantinho da harmonia, meus temas são sobre a paz interior, eu acho que vai gostr, porque senti seu coração em seu blog, você trabalha com a alma!
com carinho e gratidão.
Hana

Anônimo disse...

Belé é realmente tudo isso,
Belo post Rosinaldo.